Melhor análise política ouvida até hoje

" O (António José) Seguro é como um saguim: uma pessoa puxa-lhe o rabo e ele agarra-se a todos os ramos que conseguir!"

Gosto da maneira como sorris quando entro na tua sala, um sorriso terno e afável, capaz de acolher o rio tumultuoso que há em mim. A forma como retiras suavemente os dedos do teclado e te recostas para me ouvires, a atenção que dás a cada ênfase meu (ainda me estás a ouvir?), o suspiro longo de pausa no trabalho, esse mar de tranquilidade que transborda, quase se torna ofensivo de tão perfeito.
Gosto de quando troças das minhas manias, dos meus jeitos por vezes rudes, da maneira como trincas o lábio enquanto debito saldos bancários e olhas para a gaivota que de súbito raza a paisagem, tão perto de nós, quase a agoirar, a adivinhar tempestade.
Gosto que partilhes comigo pequenos segredos, coisas só tuas, coisas do íntimo, viagens por aí e dentro de ti.

Gosto quando perguntas como estou e ficas à espera de resposta

Finalmente

Acaba por chegar o pedido de desculpas. Sempre lacónico,  sempre em inglês, sempre com  reticências solitárias.

Aceito,  claro.  E lanço o peito de novo à espada.

Queres saber porque dói?

Dói porque és parvo,  insensato,  ficas arrogante e estúpido.  Dói porque é sem razão,  sem motivo senão a tua má disposição.  Dói porque me tratas abaixo de cão e a seguir acenas com o osso. Dói porque nunca pedes desculpa,  nunca admites o teu erro nem a insensatez com que o cometes. Dói porque és tu e tu és maior do que eu. Dói porque vamos continuar a precisar um do outro e eu nunca sei quando terás outro surto de loucura desarrazoada. Dói porque vais continuar a fazê-lo como tens feito até aqui e vai continuar a doer-me.

amaldiçoado o dia

em que te passou pela cabeça que sim,  vamos tentar conquistar a tipa que te trata de tudo. Porque não?  São coisas de velho,  bem sei. Mas era escusado.  Era escusado e sabes porquê?  Porque era escusado conhecer esse teu lado galã,  a tua pose de macho alfa,  o teu ar de príncipe altivo e permeável,  o sorriso sacana, as mãos na cabeça,  era tudo escusado.  Eram escusadas as sms  doentiamente estudadas.  As reticências todas,  as vírgulas no sítio certo.  Eram escusados os trocadilhos e a maneira como nem fazes questão de esconder ao pé dos outros o que te vai na alma (eu não vivia sem duas coisas: sem ela e sem chocolate).

Ao fim e ao cabo era tudo escusado,  porque hoje em dia já nada me seduz.

Em tempos estaria neste momento em fanicos naquela excitação da paixão e hoje já pouco bule.

És a água gelada deitada por cima do meu tesão.

Era escusado


Às vezes ele chama-me e rima

minha burra meu animal meu cordão umbilical

*

A campainha toca de maneira diferente quando és tu

As coisas simples dizem-se depressa; tão depressa
que nem conseguimos que as ouçam. As coisas
simples murmuram-se; um murmúrio
tão baixo que não chega aos ouvidos de ninguém.
As coisas simples escorrem pela prateleira
da loja; tão ao de leve que ninguém
as compra. As coisas simples flutuam com
o vento; tão alto, que não se vêm.


São assim as coisas simples: tão simples
como o sol que bate nos teus olhos, para
que os feches, e as coisas simples passem
como sombra sobre as tuas pálpebras.


Nuno Júdice

.

Acabo sempre por partir o prato imaculado e nunca aquele outro que já tem uma lasca. 

típico

recebes um elogio e ficas a pensar que é ironia fina

2014 nada de novo

O chefe a tentar por-me a mão no lombo e eu a tentar fugir.  Tudo normal,  portanto.

Low self esteem

Quando ele diz que estás "um estoiro de mulher" e tu ficas a pensar se ele queria dizer "estás tão gorda que daqui a nada estoiras"

That awkward moment

Quando sacas de uma bolsinha de penso higiénico para pagar na pastelaria.

I'm not a cat person

I'm not a dog person
I'm not a person person

Ele sabe que me tem na mão quando quer

Não exactamente como quer, mas é o que se pode arranjar

Eu adoro-o

E não é uma questão de consanguinidade

Sabes que estás a precisar de férias

no momento em que dás por ti a pôr anti-olheiras nos lábios.


Porque sem Theia não existiria a Lua

às vezes há desastres (naturais ou não) que trazem coisas boas.

da melhor página do facebook

Nem uma raiva

nem uma mágoa nem uma dor que doesse. era um fio fino de melancolia que me trespassava a alma, como uma farpa delgada o suficiente para quase não se fazer sentir. Quase nada, uma pequena réstia de tristeza apenas quando apenas me lembrava de ti. Quase nada que bateu à porta mas que se foi embora sem esperar. 

s.t.

Gosto de quando as pessoas são verdadeiras, quando abrem o jogo e param com as falinhas mansas.  Nada me incomoda mais do que ficar com a nítida sensação que me estão a burlar.
E por isso não abro portas a comerciais,  lamento.

Paralelos



















Textos e Fotografia e textos a partir de fotografias, tudo gratuito e em bom

"Don't wait to be hunted to hide, that's always been my motto."

Samuel Beckett, Moloy, 1951

Quando o chefe vem mal disposto

só me apetece refugiar-me na sala do cofre. Arre, que fica irracional. Parece uma mulher com tpm, implica com tudo. E esse tudo vai desde o atraso no pagamento de um cliente à ruga no tapete duma sala que nem sequer é usada.
Vou até à sala do cofre, ponho-me de cócoras durante uns 2 minutos, faço o pescoço estalar 3 vezes. Imagino um saco à minha frente e desfiro-lhe uns socos. Depois acendo um cigarro e sento-me a apreciar a vista do castelo. Depois digo que sim a tudo, claro!

Abomino a malta que atende o telefone a cantarolar

Assim como se estivessem a dizer os números lá no Bingo, quase orgulhosas da maneira como conseguem empatar uma pessoa durante uns bons 15 segundos naquilo. Quando bastava atenderem com um simples "hotel central, bom dia". Quem quer saber o teu nome?  Ãh? Já esqueci. Passa-me às reservas sff.

peekaboo

Os homens são sempre simpáticos comigo, as mulheres deles são quase sempre antipáticas e desconfiadas.

Não entendo este paradigma. Se elas olhassem bem para os homens delas com olhos de ver, chegariam à conclusão que afinal eu sou uma tipa anódina.

como proteger património - I

Não organizarem viagens turísticas a certos sítios, como à Serra da Freita. Isto porque quando levam uma carrada de velhas e velhos a sítios destes é certo e sabido  que cada um vai querer trazer uma pedra parideira para depois mostrar à malta com um orgulho do caralho, como se tivessem sido eles os parideiros. Dá vontade de lhes dar com a pedra na cabeça a ver se sai de lá qualquer coisa. Miolos não devem ser, de certeza.

Ando agressiva, porra. Tudo me molesta. Até as putas das pedras.

Don't fool yourself

A história tem sempre (no mínimo) duas versões. E nunca são iguais.

o meu tipo de café



Não sei gostar menos

e gostava de rodar um botão em que pudesse regular a intensidade disto do sentir. 

Não sei gostar menos e invariavelmente isso leva-me por caminhos sombrios, labirintos,  pesadelos de infância. 

Não sei gostar menos nem controlar estas facadas de emoções que magoam. Porque magoam, sabes?  

Moem-te por dentro como contracções pouco espaçadas, tiram-te o ar,  levam-te ao chão onde te revolves em dores.



















Não sei gostar menos e não sei como te fazer gostar mais.

um novo colaborador-opinião da chefia

-sabe, eu gostei dele! Acho que pode vir a ser uma mais-valia para o escritório! É um tipo que me pareceu meticuloso, centrado no trabalho, engajado e tem bastantes conhecimentos, fruto de muito estudo. Pareceu-me uma boa aposta!

(pausa)

Tem um senão: existe ali um grau de loucura que não consegui precisar se extravasa os limites do saudável ou não...




Coisas essenciais fotografadas por aí


quando ele chega numa de implicar (mas em modo bem-disposto)

tento ser polida e pergunto-lhe se quer tomar alguma coisa. Face à hesitação de segundos, pergunto-lhe:

-Veneno?

e comento logo de seguida

-Não, isso já tem de sobra!

sei que lhe arranco um sorriso com esta piada farsola, e ele vem sempre com a história do Churchill (conhece a história do veneno?)

Churchill era um sujeito muito espirituoso, com um humor fora do comum, e pegava-se constantemente com uma senhora chamada Nancy Astor, celebrizada por ter sido a primeira mulher a ser eleita para a câmara dos comuns e conhecida por ser uma acérrima defensora dos direitos das mulheres e das crianças. 

Em determinado evento, indignada com o discurso de Churchill no parlamento, a senhora Astor disparou:

- Winston, se você fosse meu marido, eu punha veneno no seu café!

O primeiro-ministro foi rápido na resposta:

-Minha senhora, se eu fosse seu marido, eu bebia o café!

Damos gargalhadas enquanto eu faço questão de nunca o lembrar que já me contou essa história umas 5 vezes. Porque é tão bom ouvi-lo contar, sobretudo antecipando o final!


















gotta love this man!

meia-hora para decifrar os recados da empregada


Fernando Pessoa reinventado

Liberdade

Ai que prazer
Cumprir um dever
Ter quinhentos mil euros à mão para foder
E não o fazer!
Fazer contas é maçada
Pagar é nada
O sol doira sem dinheiro
O rio corre bem ou mal
Sem caução cardinal
E o chefe, esse, de tão naturalmente marginal,
Como tem dinheiro, não tem pressa.

Números são caracteres pintados com tinta
Contabilidade é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre números e porra nenhuma.
Quanto melhor é quando há numerário
Esperar pelo carteiro,
Quer venha ou não!

Grande é a taxa de juro, as notas e as fianças...
Mas o melhor do mundo são as cobranças,
Transferência, cheques, depósitos, e o banco que peca
Só quando, em vez de facilitar, disseca.
E mais do que isto
É o Vitor Gaspar,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse estaleca...

by me
      

ele topa-me à distância

Não há um olhar, um sorriso, um gesto meu que lhe caia em saco-roto. Sinto-me constantemente a ser avaliada, medida, pesada, fitada. Julgada.

Quando a conversa começa na sombra dos olhos ou na cor do vestuário, já sei que vai descambar para o âmbito pessoal de seguida e levanto as guardas, porque já sei que a seguir aos elogios físicos, ele vai soltar qualquer coisa como:

- que se passa consigo? há passarinho novo no quintal? (risos dele, quase gargalhadas. embaraço meu, quase dissimulado).

e depois vai logo avisando que "temos de falar sobre isso, porque isso não é assim, sabe? temos mesmo de falar sobre isso", como se fosse meu pai, como se fosse meu irmão, como se fosse meu deus, quando afinal é só o chefe.

that was never a comedy for me


Tocou-me fundo a entrevista abaixo do Dustin Hoffman (vénia). Já a revi várias vezes, principalmente porque é irresistível o momento em que a postura séria perde para as lágrimas e é inegável que ver um homem destes chorar assim leva-nos a crer que o mundo ainda não está (completamente) perdido.

Em 1982, Dustin Hoffman interpretou o papel de mulher, no filme Tootsie. O trailer é muito mauzinho, mas dá para entender a história.



Era suposto ser uma comédia, mas para este homem, nunca foi uma comédia.




E é isto, a lavagem cerebral a que somos expostos todos os dias, o ver mais além do físico, a importância da beleza, o conceito de beleza e as prioridades todas trocadas.

Bateu fundo no Dustin e bateu fundo em mim.

Não faças filhos, por favor, que ainda vais a tempo!


é um ritual que temos

desde há uns 8 anos. sempre que eu vou com ela no carro em viagem, seja de uma saída de copos às tantas da manhã, ou de uma viagem para o algarve, porto, beja, coimbra, ela põe a música de gajas, cuja letra sabemos de cor do princípio ao fim, invariavelmente a meio da viagem e sem sequer pedir o meu consentimento. Sobe o volume e ficamos ali as duas a cantar, umas vezes felizes, outras tristes. Sempre juntas.

E sei que é por causa do David Bowie.




I'm unclean, a libertine
And every time you vent your spleen,
I seem to lose the power of speech,
You're slipping slowly from my reach.
You grow me like an evergreen,
You've never seen the lonely me at all



sabe-nos bem estes pequenos rituais.

e de repente, quando achavas que o teu verão ía ser bom, acontece

és convidada para um casamento através de uma mensagem enviada do facebook! E não, os noivos não estão no estrangeiro!

Dêem-me ideias para me desmarcar, sff.

(a qualidade da imagem do convite é tão má que tive de fazer um esforço para ver a data)


morrer na praia *definição#

é aquela situação em que estás ao telefone com um call center de uma operadora nacional qualquer, estás mais precisamente há 6 minutos a escolher opções atrás de opções, asteriscos, cardinais e o caralho os foda, na tentativa de falar com um raio de funcionário que nos responda como é que deixamos de receber sms informativas-de-gaita-nenhuma a todas as horas do dia (e da madrugada) e quando finalmente vamos ser atendidos toca a porra do telefone fixo e temos de desligar. 

coisas valiosas o suficiente para se solicitar devolução


não devolveram e ainda por cima estava virada ao contrário, assim:


Ao fim de uma semana

Com este calor bom, uma pessoa senta-se na brisa do vento quente, bebe uns martinis enquanto fuma uns cigarros e, por momentos,  a crise não existe. Juro que a crise não existe. nem fome no mundo,  nem guerras,  nem gente parva por todo o lado,  nem incêndios nem náufragos nem políticos nem nada. Não existe nada de mau.  Só este vento quente a bater-nos no corpo quase nu quase nada quase não-corpo.  Só este calor que me leva às memórias do teu corpo quente fundindo no meu escaldante, quase nada,  quase não-corpos.  Quase instinto quase faro quase quase

entretanto chegas àquela idade

em que telefonas aos amigos para lhes dar os parabéns (estás proibido de dar os parabéns aos amigos a sério através do fb ou por sms, que feio) e trata-los a todos por maricas, cabrãozinho ou parvo da gaita. sem ressentimentos e um largo sorriso na boca.

Para os açorianos "porra tonta" serve bem!

compreendo perfeitamente!

























daqui


uma chapadinha na trombinha, não?

Ouvido no café logo de manhã, da boca de um tipo apresentável, com idade para ter juízo (se fosse uma tipa, eu perdoava, juro!)

-Quero um cafezinho e um pastelinho de nata, sff!


Sad but true

No meio de uma conversa em que mais uma vez ela se lamuriava da vida,  da profissão que desgostava, do tipo que a andava a foder há meses mas que tinha namorada, dos pais intolerantes, da sua hipocondria crónica nas múltiplas variantes (se não é do cu, é das calças), do ex-namorado que andava a comer uma tia de Cascais, ela solta em forma de suspiro:

- Sabes,  acho que vou comprar um descapotável! (silêncio) Já que não tenho os filhos que queria nem marido e estou a ficar seca por dentro, sei lá,  gostava de ter um descapotável para o Verão!

E eu fiquei calada, um sorriso que ela percebeu, um sorriso como o da mona lisa.
E ela encolheu os ombros e esboçou o trejeito que dizia "sei o que pensas sobre isso".
E eu não precisei de dizer nada.





fuck yeah

                                                   da Tati Bernardi

às vezes as pessoas desaparecem sem sequer se despedirem

Um dia estão lá no gabinete a trabalhar a uma sexta-feira à tarde e quando regressamos do fim-de-semana já não estão. 

Gabinete vazio, estantes vazias, um grande vácuo de nada; a tapeçaria polidamente enrolada, o caixote do lixo e um chapéu de chuva deixados num canto laconicamente sós. Nem um post-it a dizer "adeus"!

Eu aceito que as pessoas não gostem de se despedir, não é uma coisa fácil; mas é o mais correcto, sobretudo quando ninguém fez mal às pessoas. Depois as pessoas telefonam na segunda-feira à tarde e dizem que receberam uma proposta muito boa no final da semana passada e que aproveitaram o fim-de-semana (ou terá sido fim do mês, já não me lembro) para fazerem a mudança. Geram muitas desculpas e aproveitam para tecerem os rasgados elogios que não tiveram tomates para fazer ao vivo e a cores, como devia ser, antes da despedida que também não foi feita. 

Eu sempre disse que no aperto de mão, a dele parecia um peixe morto. eu disse, eu avisei. Quando toda a gente  o elogiava, eu introduzia o "mas" do aperto de mão. Os apertos de mão nunca me enganaram! 

Não sei agora o que está mais vazio, se o gabinete levianamente abandonado se a minha crença nas pessoas.


Pelo sim pelo não, estou perfeitamente habilitada para o próximo abandono sem justificação antecipada.

adoro este júdice

Nunca são as coisas mais simples 
que aparecem quando as esperamos.
O que é mais simples, como o amor, 
ou o mais evidente dos sorrisos, 
não se encontra no curso previsível da vida. 
Porém, se nos distraímos do calendário, 
ou se o acaso dos passos 
nos empurrou para fora do caminho habitual,
então as coisas são outras. 

Nada do que se espera transforma o que somos se não for isso:
um desvio no olhar; 

ou a mão que se demora no teu ombro,
forçando uma aproximação dos lábios. 


in "As Coisas mais Simples", Nuno Júdice




It's better to feel pain than nothing at all

de pegar no agrafador e espetar-lhe nos queixos*

aquele estranho e desagradável momento em que vais cumprimentar o homem com um aperto de mão, e que ele, para além de te espetar dois beijos, ainda te põe a mão na anca enquanto o faz.

wtf?? mas uma pessoa já não pode sorrir?

*aquele agrafador grande, da resma de folhas!

má língua

como se não fosse suficientemente mau ela ter dado o nome de Érica à filha, sempre que o escreve coloca o acento ao contrário!


Como lixar subtilmente uma mãe que nos fode a cabeça

Pedir amostras grátis da Tena lady aqui e preencher com a morada dela.

“I’m like King Midas in reverse. Everything I touch turns to shit.” *

Dizer-te, em última análise, que todas as minhas relações amorosas foram um desastre e que não descarto a minha quota parte de culpa nesse paradigma.

Para que penses bem antes de me deixares pousar mais uma vez a minha cabeça no teu peito; antes que a curvatura do teu corpo se adapte perfeitamente à do meu.

Foge enquanto podes, sou uma tipa destruída, com o coração dorido e não sei se devo esforçá-lo ainda mais, sobretudo nesta fase em que ainda dói. Há contraturas que nunca saram, por mais massagens que lhes sejam infligidas.

Foge enquanto é bom, para que te lembres com um sorriso meigo ao invés de uma mágoa feia, má e disforme daquilo que podia ter sido.

*Tony Soprano

As pessoas

têm tendência a relevar o que as primeiras impressões lhes transmitem, sobretudo quando se apaixonam. E foi assim que aconteceu o nós e que só mais tarde me lembrei daquilo que me disseste na noite em que te declaraste (bêbado). Não me esqueço das tuas palavras e de as ter considerado absurdas. Perdoei-as como desculpa do estado embriagado em que estavas, mas hoje não as relevaria, nem tão pouco o facto de só teres conseguido coragem de as dizeres com a ajuda de uns copos mal medidos. Devia ter seguido o meu instinto e ter-te deixado à porta da discoteca em Alcântara depois de uns beijos,  mandava-te à gaita e com sorte os nossos caminhos nunca mais se cruzariam, porque nos destruímos. Fomos seguindo sempre a destruir-nos. 

A tua sorte foi que eu já estava ébria. E foi também esse o nosso azar. 

Hoje em dia chamas-me besta sempre que te mando à gaita,  que era o que eu te devia ter chamado naquela noite antes de te virar as costas. Quadrada.

O nosso amor ficou enguiçado naquelas tuas palavras iniciais,  vê se entendes. Não há antídoto para isso. 

Take another pill to make me feel better

hoje, em lisboa, a partir das 22h

Escutai!

Enigma (Amalia Bautista)

No primeiro dia que saí­ contigo
disseste que era estranho o teu trabalho.
Nada mais. Contudo eu bem sentia
que a minha pele se rasgava feita trapos
sempre que as tuas mãos por mim roçavam,
e que os teus olhos eram como aços
que faziam ficar os meus doendo.
Daí para a frente sempre foi o mesmo:
orgulhavas-te com a tua arte,
mais subtil e directo cada dia,
e eu não compreendia nunca nada.
Agora sei. Conheço o teu ofício:
Atirador de facas. Atiraste
contra o meu coração a mais certeira.



porque este senhor já me deu muitas alegrias

e uma tristeza, a de hoje.


RIP, man.


provérbios reinventados #1

Mau humor com mau humor se paga!

homens parvos

a sério, rapaz, a próxima vez que fores comprar alguma coisa à La Perla para a tua recém namorada (tu é que assim a denominaste), esconde o saco, não o deixes gabarolamente em cima da secretária, hum?

é que toda a gente sabe o que vai lá dentro, percebes?

ainda por cima, deixa-me que te diga, a tua recém namorada é, como dizer, gorda, pronto. não sabia que a La Perla tinha tamanhos XXL.

ah, se calhar só compraste um perfume, deve ter sido isso, sim. também não te via a escolher nada melhor, de facto.


e também não via a tua recém namorada (gorda, já disse?) nestes preparos, claro!

esconde o saco, homem.


há dias em que não queres ser nada

há-de haver dias em que não queres ter qualquer ligação ao mundo. há-de haver dias em que não queres ter mãe e outros em que não queres ser mãe. Há dias em que não queres ser tia, irmã, amiga, prima, o  raio que os parta a todos. há dias em que não queres família, nem de sangue nem de coração e choras baixinho sozinha porque queres desaparecer um bocado, só um bocado, só o tempo suficiente para não seres nada, para seres tu e para estares só contigo. só o suficiente para ninguém te chamar nem pelo nome, para ninguém perguntar por ti, para ninguém te telefonar. há destes dias em que te apetece morrer um bocadinho, só para que ninguém saiba que és viva, só para que ninguém te ligue, só para que vão todos para a puta que os pariu. 

nestes dias chora um bocado, atende o telefone e finge que és tu. finge só um bocado, nunca mostres que és mesmo tu senão vais chorar mais e mais a seguir ao telefonema. finge. só nestes dias, entendes?

quando não conseguires aguentar, manda-os para a puta que os pariu. assim, simples. vais chorar a seguir também, mas pelo menos vais sentir-te liberta e má, incrivelmente maléfica. a doce mágoa da verdade a trespassar todo o cinismo dessa puta dessa gente que não te merece vai-te fazer encolher como uma lagarta e vai-te revirar as entranhas. faz parte do processo. aguenta.

amanhã não atendas o telefone. aprende a não ser nada de vez em quando.


a próxima vez

que aquela tola da minha amiga postar no facebook a frase "In Nigella Lawson Mode ;)" vou fazer toda uma outra leitura!

um dia hei-de conseguir expressar-me

Neste momento não consigo.

É demasiada coisa para absorver, sinto-me cheia como um gordo num casamento, não consigo fazer a digestão nem sei quando irei conseguir. Amanhã, depois de amanhã, daqui a um mês, quando esta fase de encantamento terminar (porque tudo tem um fim), não sei nem quero saber.

Vou ficar a mastigar devagarinho toda esta fartura, nunca se sabe quando poderá acabar. Hoje, amanhã, daqui a um mês, não sei.

não fossem as dores no corpo todo

e eu diria que nós tínhamos sido um sonho.


atenção: contém fotos sem filtros!




tu sabes que a amizade é verdadeira

quando recebes uma chamada da tua amiga com quem costumas ir ver Muse, só para que ouças a tua música preferida ao vivo, e fica a chamada em linha até tu desligares. pelo meio consegues ouvi-la cantar. tão bom.


i wanna kill

São 2 e meia da manhã

E o meu vizinho pianista ainda está a tocar piano.

Aquilo que no início de estar nesta casa tinha tanta piada (ah e que engraçado um pianista com o piano mesmo por cima do meu quarto e um prédio com uma acústica tão boa que ouço tudo) transforma-se lentamente num pesadelo,  sobretudo porque a esta hora ele já deve estar cansado e quando se engana irrita-se e estrabucha no piano como se quisesse que as teclas saltassem para o caralho mais velho enquanto a audiência (eu) tenta dormir. 

Eu sei que há tampões para os ouvidos,  mas não consigo dormir com coisas entaladas, que querem.

É isto, ficar aqui à espera que as notas lhe calhem bem,  ok..Como fazemos nos concertos, enfim. Se correr bem ainda desato aqui em baixo a bater palmas!


Sinto-me mais ou menos como um bombista suicida

Sei que vai doer,  que me posso estropiar toda,  ficar em mil bocadinhos,  mas a causa é mais forte que tudo, a causa vale pela vida, porque não havendo causa a própria vida não tem qualquer interesse.

Para além disso, a minha recompensa pode ser bem mais carnal e palpável que 70 virgens no paraíso.

Fuck it, i'm going to blow!

sabes que alguma coisa correu mal (ou bem)

quando admoestas brandamente a criança de 5 anos que saiu do teu ventre e ela vira as costas e solta entredentes um "whatever" muito bem metido


Ainda outra

(quando tiro os fones dos ouvidos e ouço realmente o que a malta anda para lá a dizer):

-Pobre de quem as ouve, aliviado fica quem as diz!

Uma frase que me passa tantas tantas vezes pela cabeça

aprendi-a de um amigo:

-Gostos não se discutem, lamentam-se!

(eu e o meu mau feitio a passearem pela feira do livro)