houve um tempo de que não me orgulho

em que era eu que andava atrás de ti, mandava-te mensagens, ligava-te, esperava horas pela resposta (quando havia), roía unhas, não parava de olhar para o telemóvel, ía à tua procura. Voltava para trás porque não estavas, passava mais tarde e mais tarde e tu nunca estavas. Não me orgulho porque és um drug dealer. Dos fraquinhos claro está, mas eras o meu. E eu precisava de ti, garanto-te que sim.

Fiz coisas que não me orgulho, não como roubar ou prostituir-me (embora uma das duas me tivesse passado pela cabeça por mais do que uma vez), mas ainda assim coisas feias, coisas que não faria no meu estado normal. Coisas que ainda hoje me apetece sovar-me por tê-las feito, percebes. 

Fiquei furiosa quando mudaste de telemóvel por mais do que uma vez e não me avisaste, a mim, que devia ser das melhores clientes que alguma vez te passou pelas mãos, fiquei fodida da vida quando mais do que uma vez me vendeste barras de sabão azul e branco (fumas fumas e não bate nada), fiquei fodidíssima por ter de te fazer um broche uma das vezes quase coagida, a querer fugir das escadas asquerosas do teu prédio com a cena e tu nada de cena se não... esquece, fiz-te o broche e cuspi para o chão mesmo no fim, mesmo à tua frente, como os velhos cospem na rua, com desdém.

Hoje és tu quem me manda mensagens cheias de erros ortográficos, a perguntar quando passo por aí, a dizer que tens saudades (yé, right), a dizer que se não tiver guito, tudo bem, afinal somos amigos (somos?). És tu que me mandas mensagens de números que não conheço (afinal sempre guardaste o meu número, ah?), a perguntar se estou boa (claro que sim, melhor que nunca), és tu que sentes a minha falta, afinal.

O que não sabes é que encontrei uma coisa melhor que a tua droga, chama-se auto-estima e ainda por cima é gratuita. E não se vende em escadas nojentas como as tuas.

Esbofeteio-me mais uma vez pela merda que fiz e sigo em frente. Vou fingir que mudei de número e não te conheço. Se calhar mudo mesmo de número para não me esbofetear cada vez que te lembrares de mim.

Sem comentários: