Agora que já me considerava "curada" de ti, voltas a dar-me uns toques, umas piscadelas de olhos, umas placagens nas portas e umas frases engatilhadas e fazes ressuscitar os desejos já esquecidos do tesão nunca satisfeito que sentimos em tempos um pelo outro. 

Vou ao teu gabinete e sei onde está a pasta que procuras, tiro-a de imediato, entrego-ta e ficas atónito, aborrecido de remexer nos 500 mil papéis que jazem sobre a mesma. 

5 pilhas de papéis/pastas/dossiers e eu puxo dum monte a meio e tiro aquela pasta exacta, igual a tantas pastas que estão nas pilhas que te rodeiam e é nesse momento que olhas para mim com admiração e soltas a frase

"mãozinhas de oiro"

e logo de seguida ris porque te lembras que pode ter (tem) conotação sexual. E depois ficas embaraçado. 

Minto, tu nunca ficas embaraçado. 

Continuas a rir e a fitar-me. Eu é que fico embaraçada.

Mais ou menos como quando te prostras de pé à frente da minha secretária e eu, exausta da conversa "olhos nos olhos", te fito a braguilha sem querer. Que queres? É o que está no meu campo de visão!

Fico embaraçada e depois ando feita barata tonta, ora vou à copa buscar chá e quase entorno, ora entalo-me nas portas, ora puxo do telefone e não sei para quem vou ligar, ora corro à tua frente no corredor

nesse momento em que dizes: "você parece um pássaro a fugir dos tiros"

e sou


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