Ao fim e ao cabo


Chegámos ao ponto de já nem conseguirmos fixar-nos olhos nos olhos durante muito tempo. Eles dizem muito e dizem demais. Os teus elogios também são mais contidos e fugidios (esse perfume é fantástico, fica-lhe bem o cabelo apanhado), sempre em situações de movimento, toques rápidos e electrificantes (foi gira a maneira como a tua mão tocou na minha para apanharmos o lápis), sempre de fugida. Agrada-me a ausência de pressão, o espaço e respeito que mereço. O resto vejo nos teus olhos. E nos longos suspiros que dás quando me viras as costas. E no sorriso terno da manhã antes da lavoura. E no encolher de ombros que demos ao mesmo tempo no outro dia, acompanhados pelos sorrisos derrotados.

Assim é, ambos sabemos, como é possível ousarmos desejar o que não podemos? Devia haver um mecanismo algures no nosso cérebro (ía escrever erradamente coração) que impedisse tal atrevimento!

Arranquem-me os olhos!

Sem comentários: