Masturbei-me a pensar em ti. Não foi sexual nem pornográfico como julgas. Pensei em acariciar-me primeiro por dois motivos: tédio e tristeza. Procurava o fugaz prazer e um certo relaxamento muscular e psicológico que me fizesse, enfim, sentir melhor.


Picasso-Le Rêve
Cheguei a casa e não havia luz. Após contacto com o fornecedor, fiquei a saber que só no dia seguinte o serviço iria ser restabelecido. Sentia-me infeliz. A semana tinha corrido razoavelmente mal, sabia que iria acabar razoavelmente mal (na melhor das hipóteses). Existiam problemas e sentia-me infeliz.

Comecei a masturbar-me no sofá, com a sala cheia de velas (a casa cheia de velas), em silêncio. Para procurar algum alívio, algum conforto, um misto entre os dois subjugados a outras sensações inexplicáveis à minúcia. 

Sentia-me triste, em silêncio e às escuras. 

As velas romantizaram o ambiente e levaram-me ao sofá. Na realidade, não havia muito mais que pudesse fazer.

Não me leves a mal (eu sei que não levas), mas após o descartar de vários pensamentos que não me estavam a aquecer (não tinha aquecimento derivado da electricidade), fui dar contigo nos meus desejos e quis fazê-lo contigo. Naquele momento não era o teu sexo que procurava, para infelicidade tua, mas a ternura toda que transborda de ti. Era desse orgasmo de consolação que eu buscava.

Também precisava do teu abraço (sobretudo no fim), mas entretanto lembrei-me que tinha marshmallows